sexta-feira, 8 de junho de 2012

A presença de “Os Lusíadas”

Terminei de ler The presence of Camões, de George Monteiro. A partir desse livro, destaco aqui alguns autores que foram influenciados por Camões e, em especial, por Os Lusíadas, relacionando às traduções de Os Lusíadas que foram lidas por esses autores.

Mickle sugere que John Milton possa ter lido Os Lusíadas na tradução de Fanshawe. A influência dessa leitura explicaria, ainda segundo Mickle, as várias semelhanças entre o Paradise Lost e Os Lusíadas – em especial, a cena entre Miguel e Adão, ao final do Paradise Lost, e a cena de Os Lusíadas em que Tétis mostra a Gama a Máquina do Mundo.

O norte-americano Herman Melville leu Os Lusíadas na tradução de Mickle. Pelo que mostra George Monteiro, a influência de Os Lusíadas sobre Moby-Dick é profunda e incontestável.

Henry Wadsworth Longfellow, poeta norte-americano, era admirador de Camões e incluiu trechos de Os Lusíadas, na tradução de Mickle, em um grande livro organizado por ele, The Poets and Poetry of Europe. Das trinta e poucas páginas desse livro reservadas a poetas portugueses, Camões ocupava nove, com dois excertos de Os Lusíadas (o episódio de Inês de Castro e o do Gigante Adamastor), onze sonetos e nove poemas líricos. Essa antologia foi publicada em meados do século XIX, em pleno romantismo norte-americano (um pouco posterior em relação ao romantismo inglês). Entre 1876 e 1879, Longfellow publicou outra antologia, Poems of Places, incluindo novamente a tradução de Mickle do episódio de Inês de Castro e outras traduções de poemas de Camões. Mais ou menos por essa mesma época, no entanto, Longfellow conheceu a tradução do primeiro e do segundo cantos de Os Lusíadas por James Edwin Hewitt (que traduziu apenas esses dois cantos), e passou a criticar a tradução de Mickle. Em carta a Hewitt, Longfellow elogiou-o por manter a oitava rima do original, sem tentar encaixar o poema em uma nova forma. E em 1877, em carta ao imperador do Brasil, D. Pedro II, com quem se correspondia, Longfellow diz que a tradução de Mickle “é fácil e graciosamente versificada, mas não é, estritamente falando, uma tradução, e sim uma paráfrase bastante livre, ou rifacimento do original”. Mesmo assim, Longfellow manteve as traduções de Mickle em Poems of Places, que foi publicada depois desses comentários críticos.

Curiosamente, segundo George Monteiro, é com base nessas traduções de Os Lusíadas, publicadas por Longfellow, que Ezra Pound faz uma violenta crítica à obra de Camões no seu The Spirit of Romance (1910), chamando-a de medíocre. Pound atribui a mediocridade tanto de Longfellow quanto de Camões ao insípido meio aristocrático tanto de Portugal no século XVI quanto dos EUA no século XIX... Não concordo com Pound a esse respeito, mas não sei se George Monteiro tem realmente razão em pensar que Pound leu apenas os dois trechos de Os Lusíadas publicados no livro organizado por Longfellow.

Uma questão que achei interessante no livro de Monteiro, mas que foge totalmente ao meu objeto de estudo, é a sugestão de que Camões poderia ter influído na obra de Edgar Allan Poe via Elizabeth Barrett-Browing. Sabemos que “The Raven” foi criado seguindo o modelo do Lady Geraldine's Courtship, de Barrett-Browning, e que Barrett-Browning, além de traduzir uma série de sonetos de Camões e de utilizar o soneto em sua forma camoniana, citava Camões constantemente. Monteiro chega a sugerir que o nome “Lenore” – presente não apenas em “The Raven”, mas também nos poemas “Al Aaraaf” e “Lenore” – seria uma versão da “Leonor” de Camões. Interessante, mas muito difícil de comprovar.

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