quinta-feira, 28 de junho de 2012

Para ler “Os Lusíadas”

Eu gostaria de recomendar este site a todos os que queiram ler ou reler Os Lusíadas. As explicações acrescentadas em notas, estrofe a estrofe, são riquíssimas e estão me auxiliando muito em meu trabalho.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Livros que traduzi

Esta é a relação, que pretendo manter atualizada, de livros que já traduzi e que foram publicados. (Porque, além dos livros que estou traduzindo ou acabei de traduzir e estão no prelo, há livros que traduzi e que nunca foram publicados – mas esses não serão incluídos nesta lista.) Ah, eu também não incluí as dezenas de romances de banca, tipo Harlequin, que traduzi. Foram muitos!
Resolvi separar os livros por área. Mas é óbvio que alguns livros poderiam estar em mais de uma área. É o caso, por exemplo, do Ulisses Liberto, do Jon Elster, que poderia estar em Filosofia, Ciências Sociais, Artes, Psicologia ou Economia. Toda classificação é uma simplificação da realidade, aliás.
Quando não estiver escrito, entre parêntesis, “do francês”, quer dizer que a tradução foi feita a partir do inglês.
Acho que ninguém pode dizer que eu me limitei a apenas uma ou outra área de preferência, né?

Ficção
andrea
PERRY, Jacques. Récit d'Andrea: extenuante e nua tentação. São Paulo: Brasiliense, 1986. (Do francês)

shaw2
SHAW, Bernard. Um Socialista Anti-Social. São Paulo: Brasiliense, 1988.

highsmith
HIGHSMITH, Patricia. Resgate de um Cão. São Paulo: Brasiliense, 1989.

assassino
THOMPSON, Jim. O Assassino dentro de Mim. São Paulo: Paulicéia, 1991.

dalia
ELLROY, James. Dália Negra. São Paulo: Paulicéia, 1993.

aussie
(Deste eu traduzi apenas um conto)
MALOUF, David. Médium. In Lá da Austrália, coletânea de contos, org. por Stella E. O. Tagnin. Em co-autoria com Lea Béraha. São Paulo: Fólio, 2005.

Ficção Juvenil
Trilogia “os Herdeiros”:

herdguer
WILLIAMS, Cinda W. O Herdeiro Guerreiro. São Paulo: DCL, 2008.

herdmago
WILLIAMS, Cinda W. O Herdeiro Mago. São Paulo: DCL, 2009.

herdrag
WILLIAMS, Cinda W. O Herdeiro Dragão. São Paulo: DCL, 2010.

Trilogia "Wondrous Strange" (Nove Noites e um Sonho de Outono)


LIVINGSTON, Lesley. Nove Noites e um Sonho de Outono. 1º Ato. Grupo Autêntica. Editora Gutenberg, 2014. Tradução em colaboração com Angela Tesheiner.


LIVINGSTON, Lesley. À espera de Romeu. 2º Ato. Grupo Autêntica. Editora Gutenberg, 2016. Tradução em colaboração com Angela Tesheiner.

1436-20161222164424

LIVINGSTON, Lesley. A tempestade. 3º Ato. Grupo Autêntica. Editora Gutenberg, 2016. Tradução em colaboração com Angela Tesheiner.   

Ciências Humanas

Artes
canton
CANTON, Katia. E o Príncipe Dançou. São Paulo: Ática, 1994.

sting
CLARKSON, Wensley. Sting, uma Biografia. São Paulo: Ática, 1997.

design
TAMBINI, Michael. O Design do Século. São Paulo: Ática, 1997.

Filosofia / História / Sociologia

brown
BROWN, Judith C. Atos Impuros. São Paulo: Brasiliense, 1987.

foucault
DELEUZE, Gilles. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Do francês)

eleonor
MEADE, Margaret. Eleonor de Aquitânia. São Paulo: Brasiliense, 1991.

avoz
STARR, Tama (org.). A Voz do Dono. São Paulo: Ática, 1993. Tradução dividida com José Rubens Siqueira e Thereza Monteiro Deutsch.

vodca
POKHLIÓBKIN, W. V. Uma História da Vodca. São Paulo: Ática, 1995.

diploma
DÁVILA, Jerry. Diploma de Brancura. São Paulo: UNESP, 2006.

ulisses
ELSTER, Jon. Ulisses Liberto. São Paulo: UNESP, 2009.

alutaind
GARFIELD, Seth. A luta indígena no coração do Brasil. política indigenista, a marcha para o oeste e os índios Xavante (1937-1988). São Paulo: UNESP, 2011.

Direito

hart
MACCORMICK, Neil. H. L. A. Hart. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2009.

Administração / Economia

olider
ROBBINS, Harvey & FINLEY, Michael. O Líder Acidental. São Paulo: Prentice Hall, 2005.

macroe
BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2006, 4a ed. Tradução dividida com Mônica Rosemberg.

Psicologia

reich
REICH, Wilhelm. Paixão de juventude: uma autobiografia (1897-1922). Tradução dividida com Samia Rios. São Paulo: Brasiliense, 1996.

acrianca
KAIL, Robert V. A Criança. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2003.

Ciências Biológicas
Ecologia

primavera
CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. São Paulo: Gaia, 2010.

Medicina / Saúde / Nutrição

kenmayer
MAYER, Ken. Mulheres de Verdade Não Fazem Regime! São Paulo: Ática, 1995.

novoaman
COLCLOUGH, Beauchamp. Um Novo Amanhã. São Paulo: Ática, 1996.
sucos
CALBOM, Cherie, e KEANE, Maureen. Sucos para a Vida. São Paulo: Ática, 1997.

Ciências Exatas
Matemática

matlab6
HANSELMAN, Duane & LITTLEFIELD, Bruce. MATLAB 6 - Curso Completo. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2003.

Computação


c
SAVITCH, Walter. C++ Absoluto. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2003.

sistdigit
TOCCI, R. J., WIDMER, N.S e MOSS, G. L. Sistemas Digitais. São Paulo, Pearson Education do Brasil, 2007. 10a ed.

Física

fisica2
YOUNG, Hugh D. Física II: Termodinâmica e Ondas. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2008, 12a ed.
fisic4
YOUNG, Hugh D. Física IV: Ótica e Física Moderna. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009, 12a ed.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A Escola de Sagres nunca existiu!

A Escola de Sagres, criada pelo Infante D. Henrique para desenvolver a navegação, jamais existiu. Isso provavelmente não é novidade para os historiadores, estudantes de história ou mesmo para os mais jovens, mas, para mim, foi uma surpresa. Eu já havia ouvido falar que a Escola de Sagres não havia sido realmente uma “escola” – seria apenas uma reunião de cartógrafos, navegadores, estudiosos e construtores de navios. Mas as não tão novas pesquisas sugerem que a Escola de Sagres é simplesmente um mito. Será mesmo?

O primeiro a negar a existência da Escola de Sagres teria sido o historiador brasileiro Thomaz Marcondes de Souza, em 1953, seguido pelo português Luís de Albuquerque, em 1990. E em 2009 o historiador brasileiro Fábio Pestana Ramos, em seu livro Por mares nunca dantes navegados, conclui que "Não há prova factual, como vestígios arqueológicos ou documentos originais, que possam comprovar a existência de uma escola em Sagres". Segundo Pestana Ramos, as menções históricas à Escola de Sagres se baseiam apenas em um único mapa atribuído ao pirata inglês Francis Drake e datado do século XVI, que registrava algumas construções em Sagres na época – sem nenhuma referência à existência de uma escola de navegação. Ainda segundo Pestana Ramos, o mito teria sido criado no século XIX, quando o historiador português Oliveira Martins teria utilizado a existência de Sagres para construir uma identidade portuguesa baseada no amplo domínio de tecnologias de navegação. Mais detalhes aqui.

Hmm… Eu tenho certos questionamentos, pelo menos quanto a essa última afirmação, de que o mito teria sido criado pelos românticos portugueses no século XIX. Ora, o poeta escocês Mickle, em sua tradução de Os Lusíadas, de 1776, glorifica D. Henrique como o “gênio” que teria dado origem ao espírito da descoberta moderna, aquele que “nasceu para libertar a humanidade do sistema feudal e dar a todo o mundo todas as vantagens, todas as luzes que poderiam ser difundidas pelo intercâmbio do comércio ilimitado”. Mickle reproduz todos os elementos do “mito”, embora não utilize a expressão “Escola de Sagres”. No prefácio à sua tradução de Os Lusíadas, Mickle conta que D. Henrique convidou vários sábios a irem a Sagres, a cidade altamente fortificada em que ele fixara residência. De Sagres teriam vindo as bases da nova navegação portuguesa. Mickle cita também um trecho do poema "The Seasons”, de James Thomson, glorificando D. Henrique como o grande incentivador do comércio:

For then from ancient gloom emerg'd
The rising world of trade: the genius, then,
Of navigation, that in hopeless sloth
Had slumber'd on the vast Atlantic deep
For idle ages, starting heard at last
The Lusitanian prince, who, Heaven-inspir'd,
To love of useful glory rous'd mankind,
And in unbounded commerce mix'd the world.

O poema “The Seasons” terminou de ser escrito em 1730.

Acho que isso mostra que o “mito”, pelo menos na Inglaterra, é anterior aos românticos portugueses. Como vocês veem, os Estudos da Tradução podem ser bastante úteis nas pesquisas históricas. E vice-versa, claro.

[P.S. Este site traz informações mais detalhadas sobre o assunto. São explicações bem mais convincentes de como surgiu o mito da Escola de Sagres.]

terça-feira, 12 de junho de 2012

Lançamento de livro sobre a obra de J. R. R. Tolkien

O Evangelho da terra-média: leituras teológico-literárias da obra de J. R. R. Tolkien
Organizador: Carlos Ribeiro Caldas Filho
Editora: Universidade Presbiteriana Mackenzie
Local: Livraria da Vila do Shopping Higienópolis
Data: 15 de junho (sexta-feira)
Horário: das 18h30 às 21h30

Entre os cinco ensaios publicados neste livro, comento apenas os dois que já li: os dos meus colegas de doutorado, Dircilene Gonçalves (“A babel fantástica: a palavra no princípio da criação”) e Reinaldo José Lopes (“‘Em muitas vozes e em muitas línguas’: a filologia criativa de J. R. R. Tolkien”). Apesar de evidenciarem a profundidade da pesquisa acadêmica na riqueza de detalhes apresentados, ambos os ensaios são escritos em estilo fluente, claro e cativante. O ensaio de Dircilene mostra como a criação dos universos alternativos de Tolkien baseia-se na própria palavra, na criação de línguas. O ensaio de Reinaldo parte desse mesmo pressuposto (a criação de línguas como a fundação do universo literário de Tolkien) e aprofunda o estudo dos aspectos filológicos da obra de Tolkien.

Recomendo o livro, portanto, não apenas para os fãs de Tolkien, mas para todos os que se interessam pelas línguas; pela filologia; pela filosofia da linguagem; e pela relação entre o trabalho com a palavra e a criação de universos ficcionais.

Para os que não puderem ir ao lançamento, nesta página há uma lista de livrarias onde o livro pode ser adquirido.

oevtolklan

domingo, 10 de junho de 2012

(Isaac) Disraeli, patronos e Mickle

Em uma nota de rodapé de The presence of Camões, George Monteiro menciona que Melville destacou, com uma linha vertical na margem direita, um trecho do livro Curiosities of Literature, de Isaac Disraeli, sobre Mickle. Esse Disraeli (ou D’Israeli), nasceu em 1766 e morreu em 1848; era escritor e historiador, pai de Benjamin Disraeli, o famoso primeiro ministro britânico. (Curiosidade: Isaac iniciou a sua carreira literária compondo versos para Samuel Johnson.)

Antes de mais nada, interessa-me o assunto sobre o qual Disraeli está falando nessa página: patronos. Neste site, pode-se ler Curiosities of Literature online. O artigo sobre patronos está aqui, e eu recomendo a leitura a todos os que se interessam pela questão da patronagem, que já discuti anteriormente neste blog algumas vezes.

O parágrafo dedicado a Mickle diz (a tradução é minha):

O pobre Mickle, a quem devemos a tão bela versão de Os Lusíadas de Camões, tendo dedicado sua obra, um trabalho ininterrupto de cinco anos, ao Duque de Buccleugh, ficou mortificado ao descobrir, por meio de um amigo, que o Duque já estava de posse da obra há três semanas quando conseguiu reunir suficiente desejo intelectual para abrir suas páginas! A negligência desse aristocrata reduziu o poeta a um estado de depressão. Esse patrono era economista político, pupilo de Adam Smith! Fico feliz em acrescentar que, em contraste com esse frígido patrono escocês, quando Mickle foi a Lisboa, onde sua tradução há muito lhe precedera a visita, encontrou o Príncipe de Portugal esperando no cais para ser o primeiro a receber o tradutor de seu grande poema nacional; e, durante uma estadia de seis meses, Mickle recebeu a calorosa estima de todos os nobres portugueses.

Não deixa de ser irônico que Portugal, tendo dado pouco reconhecimento a Camões em vida, cumule de honrarias o seu tradutor para o inglês, que tanto modificou o original… Entre os objetivos do meu trabalho está o de tentar “explicar” essa ironia.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A presença de “Os Lusíadas”

Terminei de ler The presence of Camões, de George Monteiro. A partir desse livro, destaco aqui alguns autores que foram influenciados por Camões e, em especial, por Os Lusíadas, relacionando às traduções de Os Lusíadas que foram lidas por esses autores.

Mickle sugere que John Milton possa ter lido Os Lusíadas na tradução de Fanshawe. A influência dessa leitura explicaria, ainda segundo Mickle, as várias semelhanças entre o Paradise Lost e Os Lusíadas – em especial, a cena entre Miguel e Adão, ao final do Paradise Lost, e a cena de Os Lusíadas em que Tétis mostra a Gama a Máquina do Mundo.

O norte-americano Herman Melville leu Os Lusíadas na tradução de Mickle. Pelo que mostra George Monteiro, a influência de Os Lusíadas sobre Moby-Dick é profunda e incontestável.

Henry Wadsworth Longfellow, poeta norte-americano, era admirador de Camões e incluiu trechos de Os Lusíadas, na tradução de Mickle, em um grande livro organizado por ele, The Poets and Poetry of Europe. Das trinta e poucas páginas desse livro reservadas a poetas portugueses, Camões ocupava nove, com dois excertos de Os Lusíadas (o episódio de Inês de Castro e o do Gigante Adamastor), onze sonetos e nove poemas líricos. Essa antologia foi publicada em meados do século XIX, em pleno romantismo norte-americano (um pouco posterior em relação ao romantismo inglês). Entre 1876 e 1879, Longfellow publicou outra antologia, Poems of Places, incluindo novamente a tradução de Mickle do episódio de Inês de Castro e outras traduções de poemas de Camões. Mais ou menos por essa mesma época, no entanto, Longfellow conheceu a tradução do primeiro e do segundo cantos de Os Lusíadas por James Edwin Hewitt (que traduziu apenas esses dois cantos), e passou a criticar a tradução de Mickle. Em carta a Hewitt, Longfellow elogiou-o por manter a oitava rima do original, sem tentar encaixar o poema em uma nova forma. E em 1877, em carta ao imperador do Brasil, D. Pedro II, com quem se correspondia, Longfellow diz que a tradução de Mickle “é fácil e graciosamente versificada, mas não é, estritamente falando, uma tradução, e sim uma paráfrase bastante livre, ou rifacimento do original”. Mesmo assim, Longfellow manteve as traduções de Mickle em Poems of Places, que foi publicada depois desses comentários críticos.

Curiosamente, segundo George Monteiro, é com base nessas traduções de Os Lusíadas, publicadas por Longfellow, que Ezra Pound faz uma violenta crítica à obra de Camões no seu The Spirit of Romance (1910), chamando-a de medíocre. Pound atribui a mediocridade tanto de Longfellow quanto de Camões ao insípido meio aristocrático tanto de Portugal no século XVI quanto dos EUA no século XIX... Não concordo com Pound a esse respeito, mas não sei se George Monteiro tem realmente razão em pensar que Pound leu apenas os dois trechos de Os Lusíadas publicados no livro organizado por Longfellow.

Uma questão que achei interessante no livro de Monteiro, mas que foge totalmente ao meu objeto de estudo, é a sugestão de que Camões poderia ter influído na obra de Edgar Allan Poe via Elizabeth Barrett-Browing. Sabemos que “The Raven” foi criado seguindo o modelo do Lady Geraldine's Courtship, de Barrett-Browning, e que Barrett-Browning, além de traduzir uma série de sonetos de Camões e de utilizar o soneto em sua forma camoniana, citava Camões constantemente. Monteiro chega a sugerir que o nome “Lenore” – presente não apenas em “The Raven”, mas também nos poemas “Al Aaraaf” e “Lenore” – seria uma versão da “Leonor” de Camões. Interessante, mas muito difícil de comprovar.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

As traduções de “Os Lusíadas” para o inglês

Depois de uma overdose de Johnson, os leitores deste blog terão a partir de agora um assunto bem diferente: comecei a ler The presence of Camões: influences on the literature of England, America & Southern Africa, de George Monteiro. Pesquisando para a minha tese (análise da tradução de Os Lusíadas por Mickle), estou em busca de mais informações sobre a influência de Camões sobre os países de língua inglesa.

Como introdução ao assunto, eis uma lista das traduções completas de Os Lusíadas para a língua inglesa, em todos os tempos.

• Sir Richard Fanshawe, Londres, 1655
A primeira. Tradução em oitava rima (seguindo o original), surpreendentemente literal e competente, mas talvez bem-humorada demais para o gosto das gerações seguintes. Nâo teve grande repercussão, mas tem seus defensores até hoje.

• William Julius Mickle, Oxford, 1776
Tradução em rimas emparelhadas (dísticos heroicos). A mais conhecida e divulgada de todas as traduções da obra até hoje.

• Thomas Moore Musgrave, Londres, 1826
O tradutor era agente de navegação em Lisboa.

• Sir Thomas Livingston Mitchell, Londres, 1854
O tradutor foi um célebre soldado e explorador na Austrália.

• John James Aubertin, Londres, 1878
Tradução em oitava rima. Aubertin era engenheiro ferroviário e foi o
responsável pela construção da linha entre Santos e São Paulo. Tinha bom conhecimento da língua e literatura portuguesas, tendo sido eleito sócio da Academia Real das Ciências e Cavaleiro da Ordem de Santiago. Sua tradução foi muito valorizada em Portugal.

• Robert Ffrench Duff, Londres, 1880
Tradução em versos spenserianos. O tradutor era descendente de uma família inglesa estabelecida em Portugal.

• Sir Richard Francis Burton, Londres, 1881
O célebre aventureiro, tradutor de As mil e uma noites, viajou pelo mundo todo e sabia inúmeras línguas. Era fã de Camões, e esse apreço é evidente em sua tradução. O estilo dele, no entanto, é considerado arcaizante demais. Manteve a oitava rima do original.

• Leonard Bacon, Nova York, 1950
A primeira tradução feita nos EUA. Publicada pela Hispanic Society of America.

• William C. Atkinson, Harmondsworth, 1952
Primeira tradução em prosa. Atkinson era professor de estudos hispânicos em Glasgow.

• Hugh Finn, 1972
Tradutor natural da Rodésia. Tradução versificada a partir da tradução em prosa de Atkinson.

• Landeg White, Oxford, 1997

Há uma outra tradução que, apesar de incompleta, costuma ser incluída na lista de traduções importantes de Os Lusíadas:

• Edward Quillinan, com notas de John Adamson, Londres, 1853
Apenas os 5 primeiros cantos.

Aos poucos espero saber mais a respeito de cada uma dessas traduções, embora o meu foco principal seja a tradução de Mickle.

Dr. Johnson: Ye Olde Cheshire Cheese

Minha querida amiga Kyky, leitora deste blog, enviou-me estas fotos, de uma viagem recente a Londres.

Na verdade ninguém sabe dizer ao certo se o Dr. Johnson frequentava ou não o Ye Olde Cheshire Cheese. Esse pub não é mencionado nenhuma vez no Life of Johnson, por exemplo. Mas, de qualquer forma, é verdade que Johnson morou, por muito tempo, na Fleet Street (mais precisamente, na Gough Square), e gostava de frequentar os pubs e tavernas de lá.

Fleet St.

Além disso, o Ye Olde Cheshire Cheese (145 Fleet St) procura preservar a atmosfera dos velhos pubs londrinos. Dizem que Mark Twain, G. K. Chesterton, Charles Dickens e Arthur Conan Doyle – entre outras celebridades - eram frequentadores habituais.

Eis a placa indicando aquele que seria o banco favorito do Dr. Johnson:

EU1762

O banco de Johnson fica juntinho à lareira:

DSC09073

Mais algumas fotos do interior do Ye Olde Cheshire Cheese:

Olha o Dr. Johnson lá no fundo!

Dá pra imaginar o Dr. Johnson e seus amigos conversando num lugar como esse, falando mal de todo mundo e dando boas risadas…

Na Wikipedia há um retrato muito interessante, com alguns dos membros do The Club, o clube literário do qual Johnson fazia parte. Clicando na gravura vocês podem chegar a essa página da Wikipedia e ver quem era quem. Boswell é o primeiro a partir da esquerda; Johnson é o segundo.

JoshuaReynoldsParty Um detalhe interessante é que, depois da juventude, Johnson parou de tomar bebidas alcoólicas. Ele era, então, como meu avô, um boêmio que não tomava álcool. (Meu avô, João Santana, fez parte do grupo da revista modernista “Madrugada”, de Porto Alegre – um dia desses falarei mais sobre ele.) Como eu, Johnson era viciado em chá. (Meu avô preferia o café.) Mas acho que o mais importante era mesmo a conversa com os amigos!

terça-feira, 5 de junho de 2012

Alguns tópicos em "Life of Johnson" - Parte 2

2) LITERATURA E TRADUÇÃO

Uma questão sobre poesia que sempre se discutia na época de Johnson era quais temas eram considerados apropriados. Johnson comenta sobre “The Fleece” (A Lã), de John Dyer: “Não há como tornar esse assunto poético. Como se pode escrever poeticamente sobre sarja e droguete?” Comentando sobre “Sugar-Cane”, de James Grainger, ele diz que não é possível se escrever poesia sobre cana de açúcar. Se fosse, por que não poderíamos escrever também sobre um canteiro de salsa, ou “A Horta de Repolhos, um Poema”?

Essas frescuras de “tema apropriado” e “decoro” eram típicas do neoclassicismo, que ainda exercia forte influência na época de Johnson e Mickle. Homero ou Camões não eram tão “delicados” quanto os neoclássicos. Por isso, nos séculos XVII e XVIII, os tradutores precisavam expurgar os clássicos de suas “grosserias”. Eu já havia comentado sobre isto aqui (Fitzgerald eliminando do Rubaiyat as referências a “pernas de cordeiro”; De La Motte cortando metade da Ilíada em sua tradução). Mickle, com certeza, fez isso com Camões, também. Falaremos sobre isso, um dia.

Sobre tradução, Boswell diz que não sabe defini-la nem compará-la a nada, mas que acha que a tradução de poesia só poderia ser imitação. Johnson replica: “Pode-se traduzir livros de ciência com exatidão. Pode-se também traduzir história, desde que esta não esteja adornada com oratória, que é poética. A poesia, com efeito, não pode ser traduzida e, portanto, são os poetas que preservam as línguas; pois nós não nos daríamos ao trabalho de aprender uma língua se pudéssemos ler tudo o que foi escrito igualmente bem em uma tradução. Mas, como as belezas da poesia não são preservadas em qualquer outra língua além daquela em que foi escrita originalmente, nós aprendemos a língua”.

Outra conversa sobre tradução no grupo de Johnson:

Johnson: “Devemos avaliar o seu efeito como um poema inglês; é assim que se julga o mérito de uma tradução. Traduções são, em geral, para pessoas que não conseguem ler o original.” Boswell menciona a “opinião vulgar” de que o Homero de Pope não é uma boa representação do original. Johnson replica: “É o melhor trabalho que já foi produzido no gênero”. Boswell: “A verdade é que é impossível traduzir poesia com perfeição. Em uma língua diferente, podemos ter a mesma melodia, mas não o mesmo tom. Homero toca fagote; Pope, flajolé”. Harris (James Harris, político e gramático de Salisbury) acrescenta: “Acho que poesia heroica fica melhor em versos brancos; mas parece que o ritmo é essencial à poesia inglesa”.

Sobre os elementos pagãos das odisseias antigas (um tema que me interessa de perto), Johnson comenta: “O maravilhoso pagão não nos interessa: quando uma deusa aparece em Homero ou Virgílio, nós ficamos entediados; é pior ainda nas tragédias gregas, pois nesse tipo de composição é necessária uma maior aproximação com a natureza”. Apesar disso, ele via boas razões para que esse tipo de obra fosse lido, pela fertilidade da imaginação, a beleza do estilo e da expressão, assim como a curiosidade de entender o que encantava as pessoas naqueles países e naquela época. Mas “é evidente que ninguém que escreve agora pode usar as divindades e a mitologia pagãs”. Compreende-se, então, que o neoclassicismo estranhe tanto a mistura, em Camões, dos elementos pagãos e cristãos e que, nas traduções, procure suavizar a influência pagã. Por isso Mickle dedicou várias páginas da dissertação que acompanha a tradução de Os Lusíadas a explicar a presença dos elementos pagãos no poema e responder àqueles que criticavam essa presença – principalmente Voltaire.

Todos esses pontos que destaquei confirmam as impressões que eu já havia formado sobre o gosto da época.

Last but not least, Mickle. Ele é mencionado quatro vezes por Boswell em Life of Johnson. Em duas dessas vezes, Boswell se refere a ele como “Mr. Mickle, o tradutor de Os Lusíadas”, e em outra vez como “Mr. Mickle, o excelente tradutor de Os Lusíadas”. A primeira, a segunda e a quarta dessas menções são rápidas, do tipo “fui com Mr. Mickle à casa de fulano” ou “passei a tarde na casa de sicrano com Mr. Mickle”. A terceira menção é mais longa, consistindo em trechos de uma carta de Mickle escrita a Boswell alguns meses antes da morte de Mickle e vários anos após a morte de Johnson. Nessa carta, Mickle conta que conviveu com Johnson durante 12 anos e que Johnson sempre o tratou com muita amabilidade. Mickle relata uma discussão que tivera com Johnson durante a tradução de Os Lusíadas. Johnson dissera a Mickle: “Teria sido melhor para o mundo se o seu [Vasco da] Gama, o seu príncipe Henrique de Portugal e Colombo nunca houvessem nascido, e seus planos não tivessem ido mais longe do que suas próprias imaginações”. Mickle diz que foi essa declaração de Johnson que o estimulou a escrever a sua longa (longuíssima!) Introdução à tradução de Os Lusíadas, na qual, inclusive, cita essa mesma discussão e a frase de Johnson. Quando a tradução foi publicada, o Dr. Johnson comentou com Mickle: “O senhor se lembrou da nossa discussão sobre o príncipe Henrique, e também me citou. O senhor cumpriu a sua parte muito bem, com efeito: desenvolveu o seu argumento da melhor forma possível; mas ainda não estou convencido”.

Mickle conta também que o Dr. Johnson lhe teria dito, em 1772, que, cerca de 20 anos antes, ele próprio havia pensado em traduzir Os Lusíadas, obra em que via grande mérito, mas fora impedido devido a outros compromissos.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Alguns tópicos em "Life of Johnson" - Parte 1

Terminei de ler o Life of Johnson. Acho até que vou sentir saudades. Acostumei-me à presença do grandão. Autoritário e extremamente conservador, mas também generoso. Sempre dizia o que pensava, o que o tornava ao mesmo tempo temido e… fascinante.

Vou tentar fazer uma síntese dos pontos do livro que apresentam maior relevância para a minha tese. Nesta primeira parte falarei dos aspectos políticos e sociais; na segunda parte, de alguns tópicos ligados à literatura e tradução.

1) ASPECTOS POLÍTICOS E SOCIAIS

Deu pra sentir o quanto a Inglaterra da segunda metade do século XVIII era conservadora – pelo menos em comparação com os ideais democráticos que surgem com a Revolução Francesa e a Independência Norte-Americana. Mesmo que consideremos que Johnson fosse reacionário para a sua época, o fato de a opinião dele ser tão valorizada, inclusive politicamente, corrobora o reacionarismo do ambiente em que ele (e Mickle) viviam.

Algumas pérolas do pensamento sócio-político de Johnson (incluindo algumas do biógrafo, Boswell, por tabela):

- “Pobre não tem honra.” Ou seja, um homem rico podia alegar a “defesa da honra” se cometesse um assassinato, mas um pobre não podia fazer o mesmo.

- “Sou amigo da subordinação, como o que mais favorece a felicidade da sociedade. Há um prazer recíproco em governar e ser governado.”

- “Se todas as distinções fossem abolidas, o mais forte não mais se submeteria, mas tentaria obter superioridade por meio de sua força física. Mas, como a subordinação é muito necessária para a sociedade, e as disputas por superioridade muito perigosas, a humanidade, ou seja, todas as nações civilizadas, entraram em acordo a respeito de um princípio invariável comum. Um homem nasce em uma posição hereditária; ou então, ao ser nomeado para certos postos, adquire uma certa posição. A subordinação favorece em muito a felicidade humana. Se todos fôssemos iguais, não teríamos nenhum outro divertimento além do mero prazer animal.”

- Não há como negar que ele sabia usar de seu humor ferino para defender suas posições. Ele conta que, certo dia, na casa de Mrs. Macaulay, “uma grande republicana”, ele lhe disse: “Senhora, eu agora me converti ao seu modo de pensar. Estou convencido de que toda a humanidade está em pé de igualdade e, para lhe dar uma prova incontestável de que estou falando sério, aqui está um cidadão muito sensato, civilizado e bem-comportado: o seu lacaio [footman]. Desejo que ele seja autorizado a se sentar e jantar conosco”. Johnson comenta, então, ao relembrar a cena: “Desta forma, eu mostrei a ela o absurdo da doutrina da igualdade. Desde então, ela deixou de gostar de mim. Os defensores da igualdade querem baixar o nível dos que estão acima deles até o seu próprio nível, mas não querem elevar o nível dos que estão abaixo até o nível deles mesmos. Todos querem ter algumas pessoas abaixo do seu nível; por que, então, não deveria haver algumas pessoas acima deles?”

- “Os seres humanos são mais felizes em um estado de desigualdade e subordinação. Se fossem colocados em estado de igualdade, logo denegerariam em animais. [...] Todo o aperfeiçoamento intelectual vem do lazer; todo lazer vem de um trabalhar para o outro.”

- Apesar de discordar das ideias de Rousseau, Boswell simpatizara com ele, ao conhecê-lo pessoalmente, e pergunta a Johnson se considera, realmente, Rousseau uma má pessoa. Johnson se irrita muito e responde: “Considero-o um dos piores homens; um canalha que deve ser expulso da sociedade, como tem sido. Três ou quatro nações já o expulsaram, e é uma vergonha que ele seja protegido neste país”.

- Boswell então pergunta a Johnson se considera Rousseau tão ruim quanto Voltaire. Johnson responde: “É difícil fixar a proporção de iniquidade entre esses dois”.

- Boswell defende os norte-americanos em sua luta pela independência, mas Johnson se irrita só de ouvir falar neles: “Eu me disponho a amar toda a humanidade, exceto os norte-americanos”.

- Além do preconceito contra os norte-americanos, Johnson também desprezava os escoceses. É preciso reconhecer que, mesmo assim, ele se tornou amigo de vários escoceses, como o próprio Boswell. E Mickle, embora este não fosse assim tão próximo de Johnson.

- Quanto aos povos orientais (East-Indians, como eram chamados pelos ingleses da época), Johnson os considera “uns bárbaros”. Boswell pergunta se ele não abriria uma exceção para os chineses, pois estes haviam desenvolvido alguma arte. Johnson responde, em tom de desprezo, que a arte dos chineses se limita à cerâmica...

- O machismo também imperava na Grã-Bretanha do século XVIII. Quando uma certa Mrs. Knowles, uma Quaker, o questiona a respeito da diferença dos níveis de liberdade entre homens e mulheres (por exemplo, em termos de necessidade de manter fidelidade no casamento), Johnson responde que “se exigimos mais perfeição das mulheres do que de nós mesmos, estamos lhes prestando uma homenagem. E as mulheres não têm as mesmas tentações que nós temos: elas podem viver sempre em companhias virtuosas; os homens devem se misturar ao mundo de forma indiscriminada. Se uma mulher não tem propensão a fazer o que é errado, ser impedida de o fazer não é uma restrição a ela”. Mrs. Knowles insiste em que há mais tolerância para com os homens do que para com as mulheres. Johnson replica: “É evidente, senhora, que um ou outro precisa ter a preferência. Como diz Shakespeare, se dois homens montam em um cavalo, um deles precisa montar atrás”.

- Tanto Boswell quanto Johnson chamam David Hume de “infiel”, pois Hume declarava não ter religião. E tanto Boswell quanto Johnson achavam inaceitável até mesmo conversar com um infiel! Boswell chega a dizer que um infiel como Hume merecia ser chutado escada abaixo. Johnson concorda com ele.

- Surpreendentemente, contudo, Johnson era contra a escravidão – ao contrário de Boswell. Johnson achava que a escravidão jamais poderia ser considerada o estado natural dos seres humanos: “Nenhum homem é, por natureza, propriedade de outro”.

- Quando Johnson não estava sendo sectário e dizendo coisas como “O Diabo foi o primeiro Whig”, ele até que era um bom filósofo político. Nesta análise, por exemplo: “Um Tory sábio e um Whig sábio, acredito, concordarão. Seus princípios são os mesmos, embora suas maneiras de pensar sejam diferentes. Um Tory radical torna o governo ininteligível; ele se perde nas nuvens. Um Whig violento o torna impraticável; ele permite tantas liberdades a todos os homens que não resta poder suficiente para governar nenhum homem. O Tory tende a favorecer demais a instituição; o Whig, a inovação. Um Tory não deseja conceder mais poder real ao governo; mas esse governo deve ter mais reverência. Assim, eles também diferem sobre a Igreja. O Tory não deseja conceder mais poder legal ao clero, mas deseja que ele tenha uma influência considerável, fundada na opinião da humanidade; o Whig quer limitá-lo e vigiá-lo com estreito ciúme”.