segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Drummond tradutor

Hoje é o aniversário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, um de meus poetas favoritos. Drummond se dedicou também à tradução. Traduziu Balzac, Proust, Knut Hamsun, Lorca, Maeterlinck, Choderlos de Laclos e Molière, além de poemas esparsos de Apollinaire, Brecht, Paul Éluard e muitos outros poetas.

Para celebrar a data, copio aqui uma tradução de Drummond de um poema de Jacques Prévert, poeta e roteirista francês. Primeiro o original francês, depois a tradução de Drummond:

LE LÉZARD

Le lézard de l'amour
S'est enfui encore une fois
Et m'a laissé sa queue entre les doigts
C'est bien fait
J'avais voulu le garder pour moi.

(PRÉVERT, Jacques. Histoires et d'autres histoires. Paris: Le point du jour, 1963.)

A LAGARTIXA

A lagartixa do amor
fugiu mais uma vez
deixando-me nos dedos
sua cauda. Bem feito:
Eu queria prendê-la.

Essa tradução foi publicada originalmente em 30 de outubro de 1949, no Correio da Manhã, e foi recentemente republicada no livro Carlos Drummond de Andrade: Poesia traduzida, da Cosac Naify, ao lado do poema original (pp. 302-303).

sábado, 29 de outubro de 2011

Downton Abbey = soap opera?

Como muita gente vem parar no meu blog por causa da minha resenha de Downton Abbey, sou obrigada a contar a vocês que não estou gostando nem um pouco da segunda temporada. A série se transformou numa verdadeira soap opera, com muitos clichês apelativos. E o pior é que, numa série curta, esse tipo de clichê não funciona bem. Em consequência, o ritmo da série acaba sofrendo. Alguns temas importantes e de alta carga emocional se resolvem em apenas um episódio, enquanto outros temas se arrastam interminavelmente.

Maggie Smith continua fenomenal, no entanto, como Violet Crawley. Em homenagem a ela, continuarei assistindo à série, e torcendo para que o final não seja tão ruim quanto os episódios anteriores.

Aguardo com expectativa a terceira temporada de Garrow’s Law, outra série britânica sobre a qual já comentei neste blog. A BBC está prometendo o primeiro episódio para a segunda semana de novembro.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Pontuação: fechamento de aspas e sinal de pontuação – o que vem primeiro?

No final da década de 80, quando trabalhei na editora Brasiliense, o competente revisor que assinava como José W. S. Moraes, mas que nós conhecíamos como Zé Waldir, me ensinou mais ou menos o seguinte, em outras palavras:

1. O fechamento das aspas vem depois da pontuação quando temos uma frase completa e isolada.

Exemplos: “Rir é o melhor remédio.”

“Você acredita mesmo nisso?”

“É claro!”

2. O fechamento das aspas vem antes da pontuação quando a citação é continuação da frase do narrador.

Exemplo: Flusser pensava que “a poesia aumenta o território do pensável, mas não diminui o território do impensável”.

O mesmo acontece se usarmos dois pontos antes da citação:

Flusser disse: “A poesia aumenta o território do pensável, mas não diminui o território do impensável”.

3. O fechamento das aspas também vem antes da pontuação quando temos uma frase completa com a intervenção do narrador no meio.

Exemplo: “A poesia aumenta o território do pensável”, disse Flusser, “mas não diminui o território do impensável”.

Achei o sistema do Zé Waldir lógico e o adotei.  O livro: manual de preparação e revisão, da Ildete Oliveira Pinto, que vim a conhecer depois, ao trabalhar para a editora Ática, segue essas mesmas regras. A não ser que a editora adote outras normas, sigo esse sistema.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Boudicca

Estou feliz porque minha irmã e eu terminamos o trabalho urgente e imprevisto que nos foi pedido e voltamos, enfim, a traduzir Once Every Never, o livro de literatura juvenil a respeito do qual já comentei aqui mesmo neste blog.

Once Every Never é um livro de fantasia; não há uma pretensão a uma “fidelidade” absoluta aos dados históricos. Por isso o resumo histórico que contarei a seguir não se baseia apenas no livro; contém também elementos que extraí de pesquisas feitas na Internet e em vários documentários (da BBC, da Discovery Channel, da History International Channel e do Time Team) a que assisti nas últimas semanas. No livro alguns detalhes são suavizados, já que se trata de um livro para jovens adultos.

As referências históricas do livro remontam ao século I dC, quando a rainha dos icenos, Boudicca, liderou uma rebelião contra os romanos que ocupavam a Ilha da Grã-Bretanha.

Os icenos eram um povo celta que vivia na região que corresponde ao que hoje é Norfolk. O rei Prasutagos, marido de Boudicca, havia feito um acordo com os romanos, que o deixaram reinar sobre seu povo. Quando Prasutagos morreu, legou ao imperador romano, em testamento, a metade de seu reino, deixando a outra metade para a esposa, Boudicca, e as duas filhas.

A lei romana, no entanto, só admitia a sucessão pela linha masculina… Assim, os territórios de Boudicca foram anexados, a rainha foi chicoteada e suas duas filhas estupradas. (Sim, percebe-se que os romanos eram um povo evoluído…)

Entre 60dC e 61dC, o governador romano Suetônio Paulino estava na Ilha de Mona, ao norte de Gales, massacrando os druidas que ali se haviam refugiado. A ideia era mesmo destruir as bases espirituais dos povos celtas.

Boudicca aproveitou a ausência do governador para reunir várias tribos celtas e enfrentar os romanos. Os rebeldes atacaram e incendiaram várias aldeias, entre as quais Londinium (Londres).

Suetônio conseguiu, enfim, reunir todas as legiões para enfrentar o exército de Boudicca. Segundo Tácito, o exército romano contava com cerca de 10 mil homens, contra 230 mil das forças rebeldes! Mesmo assim, os celtas foram massacrados. A disciplina, as armas e a habilidade estratégica romanas eram realmente notáveis.

É uma história fascinante e que guarda muitos mistérios, já que as únicas fontes sobre a história de Boudicca são dois historiadores romanos, Tácito e Cássio Dio (ou Dio Cássio). Ou seja, a história dessa poderosa guerreira celta chegou até nós apenas pelos relatos de seus inimigos…